Ando
a ler desde há uns tempos um pequeno e insignificante livro de bolso intitulado“
Le livre noir de la gastronimie française” da autoria de dois jornalistas
franceses, que põem a nu o segredos mais ou menos bem guardados dos meandros do
mercado da cozinha francesa. Do masterchef à famigerada guia Michelin, da
comida vendida pronta aos restaurantes para eles aquecem no microondas e
servirem ao cliente aos milionários negócios que tudo isto envolve, do
desespero dos pequenos restaurantes por sobreviverem à luta dos chefes de
cozinha por obterem uma estrela Michelin e verem o seu volume de negócios subir
para valores astronómicos, o cenário da mítica cozinha francesa esta entregue à
bicharada, e tudo isto, com a bênção pública dos grandes chefes de cozinha
franceses, assalariados das grandes marcas que compõe o poderoso mercado agro-alimentar,
que não hesitam de promover esses produtos em feiras profissionais e em
publicidade televisiva destinada ao grande publico.
O
pior, é o problema de saúde pública que se esta a gerar aos poucos com este género
de alimentação na dieta dos que a consomem de olhos fechados como se não existisse
amanhã, a lei nada regulamenta e as vozes que se levantam mal se ouvem no meio
do burburinho televisivo e do bem amado conforto dos franceses; é caso para
dizer que vão pagar caro tal negligência.
Entretanto
a riquíssima cozinha tradicional francesa, fica relegada para um certo
esquecimento só recuperada por algumas publicações raras que mal notamos a sua existência
no meio da verdadeira tempestade de publicações dos chefes assalariados do
poder agro-alimentares, e de um programa de tv semanal chamado “Les escapades
de Petitrenaud” transmitido domingo ao meio dia, que vai ao encontro da cozinha
“du terroir”, é dizer local, cozinha esta praticada por bons chefes de cozinha,
mas desconhecidos do grande público televisivo. O restante cenário está rendido
à cozinha criativa, à alta cozinha, e é essa mais ou menos a imagem colectiva
da cozinha na sociedade francesa, mas só acessível as bolsas mais compostas e
praticada em casa pelos mais exigentes ou pelos interessados em participar em
concursos.
Entretanto
a grande panóplia de concursos promovidos por marcas, impõe através da selecção
que fazem dos vencedores, a criatividade, mesmo que a sua duração seja
absolutamente efémera, imediatamente relegada para o esquecimento por outra
receita. Creio que este dinamismo não favorece nem a cozinha nem a
criatividade, porque quase nada se irá impor no tempo como uma receita com
história. Não se isto importará muito no futuro, mas actualmente apreciamos
muito a cozinha tradicional que herdamos das nossas avós.
Para
os interessados aqui fica o nome dos autores: Aymeric Mantoux et Emmanuel Rubin,
o título é o que fiz referência antes.
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